Venom tem dois pontos a serem apreciados – na medida do possível –, o humor de Tom Hardy com Venom e a trilha sonora.
Filmes a partir da perspectiva de vilões costumam ser boas sacadas para sair do molde de super-heróis, ainda mais em um gênero que já tem sua estrutura bem marcada. Venom é uma ideia interessante e inusitada para se retratar, levando em conta que os vilões do Homem-Aranha não possuem peso suficiente para serem mais do que coadjuvantes. O que faz o filme ser não só uma história chamativa para ver no que pode dar, assim como ousada, pois, ou seria muito bom ou seria muito ruim.
A história se passa na atualidade, na cidade de São Francisco, seguindo a vida de repórter de Eddie Brock (Tom Hardy) como um jornalista irreverente com intenções melhores do que sua emissora propõe. Após a criação de uma intriga com um grande empresário, Carlton Drake (Riz Ahmed), sua vida vira de cabeça para baixo. Porém, seu caminho muda quando é exposto a um organismo alienígena que lhe dá capacidades sobre-humanas, chamando a atenção da empresa de Drake.
Venom se apoia bastante em seus valores técnicos, além do humor. Com muitas cenas de luta, efeitos visuais, efeitos sonoros, etc. Elementos que servem como a base da produção. Felizmente 50% do humor do filme funcionam, pois, levando em conta sua base computadorizada e a coreografia das cenas de ação, Venom é bem decepcionante.
Os efeitos visuais, quando estáticos, têm uma boa presença, e são medianos em grande parte do tempo. Quando inserido em cenas de ação, especialmente em cenas centradas nos efeitos visuais, fica muito carregado, e quase impossível de apreciar e entender na verdade o que está acontecendo entre as várias manchas de computação gráfica.
Assim como os efeitos visuais, são muito sons sobrepostos junto com a trilha sonora, fazendo com que tudo fique atabalhoado e bem bagunçado.
A cinematografia não oferece muito ao filme, da mesma forma que o filme não se importa em oferecer espaço para belas cinematografias. Claramente o intuito principal era de fazer um blockbuster – o que não é uma crítica –, mas o trabalho de Matthew Libatique, que é um ótimo diretor de cinematografia, desapareça em meio à produção.
Entretanto, Ludwig Göransson continua sua exploração do universo dos super-heróis, tendo feito a trilha sonora de Pantera Negra, e nos oferece uma orquestra bem interessante e diferente de seu trabalho anterior, mostrando sua versatilidade e competência. Trazendo tons de rock contemporâneo, junto a um momento específico meio experimental, e composições mais fortes e estrondosas, elevando as medíocres cenas de ação.
Não sou capaz de interpretar a recepção do público “nerd”, mas aos que estavam ansiosos por um filme que se relacionasse diretamente com universo da Marvel e/ou até com o Homem Aranha, certamente irão se decepcionar, sendo esse um filme especificamente direcionado ao Venom, com uma ou duas referências que criam uma empolgação bem passageira.
Trabalhar as histórias de vilões está em alta atualmente, com algumas produções sendo lançadas, especialmente pela DC. No entanto, aparentemente todos que tentam ir atrás da originalidade de apresentar personagens longe dos padrões heroicos acabam caindo na armadilha que é tentar essa subversão de gênero. Na tentativa, de dar voz um vilão/anti-herói como o Venom, o roteiro atropela estilos diferentes, passando da ação para o drama, do drama para a comédia, da comédia para ficção científica, etc, de modo extremamente desordenado, basicamente tentando agradar a todos, mas esquecendo da própria história que queria contar. Além de, como outros filmes sobre vilões fizeram, procura “humanizar” e tornar o suposto vilão em herói, ao invés de assumir o personagem e sua realidade.
Tanto o roteiro quanto a edição possuem grandes problemas, com ênfase no roteiro fraquíssimo, raso, sem nenhum desenvolvimento de narrativa, personagens planos que apenas aparecem em cena, mas não compõem cenário. Além de demorar mais do que deveria para começar a história, rodeando e espreitando o desenrolar, os saltos temporais são muito bruscos. Quando se inicia uma compreensão e engajamento com o que está acontecendo, a edição corta meses e anos da forma mais simples e inescrupulosamente. No decorrer, a edição não melhora, apesar de que consegue uma melhor firmeza. Entretanto, algumas trocas de cena, principalmente na tentativa de dar um tom ameaçador ao vilão, são jogadas e não encaixam, e muito menos funcionam com a intenção premeditada.
As atuações são tão fracas quanto o roteiro, que não ajuda bons atores a exercerem suas reais capacidades, deixando a sensação de talentos desperdiçados pelo “canto do blockbuster”. Tom Hardy carrega o filme nas costas, junto com Venom que é um personagem a parte, dando um humor que funciona na maior parte do filme. Porém, tudo em volta de Tom Hardy é cômico, o que causa certa estranheza no tom da história, mesmo que funcione.
Jenny Slate está basicamente operante como uma cientista buscando se redimir com seus atos e proteger sua família, mas é visível a imagem da atriz vestida de cientista, e não a atriz interpretando a cientista.
Os dois casos mais incômodos são a personagem de Michelle Williams e o vilão de Riz Ahmed. Michelle Williams interpreta o par romântico de Tom Hardy, contudo, a conexão entre os dois é inexistente, e bem desconfortável de ver a falta de ligação pessoal entre os dois. Uma atuação abaixo de seu talento, inexpressiva, com clichês bem datados e frases de efeito que, com o nível dos filmes baseados em histórias em quadrinhos dos últimos anos, são um absurdo para o gênero. E enquanto tudo dá errado, o vilão não podia ser pior. Riz Ahmed sofre do mesmo problema de Jenny Slate: vestido como cientistas ao invés de interpretá-lo. E ao tentar reproduzir as ameaças e o medo presentes no roteiro, a fraqueza da performance é decepcionante.
O filme procura construir a sensação de ameaça do vilão, com uma chegada triunfal no clímax. Mas sua passagem é péssima, prepotente, sem originalidade, comprometendo a atuação de Riz Ahmed, refém de um roteiro complicado de se trabalhar devido ao quão mal escrito ele foi, sendo, provavelmente, o ponto mais fraco de um filme muito fraco.
Venom tem dois pontos a serem apreciados – na medida do possível –, o humor de Tom Hardy com Venom e a trilha sonora. Enquanto a tudo em volta da produção, um problema atrás do outro, que um roteiro mediano não salvaria esse naufrágio. Personagens mal escritos, roteiro raso e sem desenvolvimento, trabalho técnico operante, mas falho em muitas partes, e um personagem central que é uma das maiores ameaças do Homem Aranha reduzido a um anti-herói engraçadinho e piadista.