![]() |
Foto: Assessoria de Imprensa/Humberto Araújo |
O penúltimo dia de Mostra
Competitiva trouxe um curta carioca e um longa-metragem de Minas Gerais –
de onde saíram, inclusive, os vencedores das duas últimas edições do festival.
Primeiramente, os recados importantes:
Quem quiser pegar as sessões perdidas (somente as do dia
anterior) pode comparecer ao Museu Nacional da República. Os horários estão
disponíveis no site www.festivaldebrasilia.com.br.
Aos interessados em comparecer – e apesar de correr risco de
lotação – sugiro não chegar em cima da hora, principalmente nos horários da
Mostra Competitiva (depois das 18:00), já que existe uma porção da sala
reservada para os veículos de imprensa. O estacionamento está em obras e a
forma mais fácil de encontrar vagas é nos blocos residenciais das proximidades
(Entrequadra Sul 106/107). O melhor conselho é optar pelo metrô e os
aplicativos de transporte.
*Há um desconto no
Uber especial para o Festival (cód: FESTIVALDEBRASILIA).
Vamos aos filmes:
EU, MINHA MÃE E
WALLACE (Irmãos Carvalho, ficção, RJ,
23 min)
A sinopse oficial do curta oferece apenas “A história de uma
fotografia: uma mãe solteira, um pai ausente e uma criança”.
A capacidade de síntese da frase reflete o trabalho dos
irmãos gêmeos cineastas do morro do Salgueiro. Os 23 minutos são suficientes
(até menos) para estabelecer o ambiente, apresentar o protagonista e fazer o
público entender seu conflito de forma envolvente.
O homem, vivido por Fabrício
Boliveira, no dia de sua saída temporária da prisão, visita o irmão à
procura de resolver questões pessoais relativas à sua família. A interação
inicial é cheia de subtextos e temos alguma ideia do passado pelas reações de
cada um. Antes de começar a sessão, o montador da obra disse que procurou não
tirar trechos que julgava “coisas pequenas” e que seriam mais importantes pela
naturalidade do que por questões formais. Apesar disso, o começo poderia ser
condensado diante da eficiência da segunda parte da narrativa.
E é nela que a história se fortalece pela ótima construção
do conflito usando de bastante sensibilidade e capacidade de dizer muito
mostrando pouco. É pouco tempo, mas o espectador sente a tensão e torce para o
sucesso do personagem. No caminho, a câmera procura explorar o pequeno ambiente
e dinamizar a narrativa. Por vezes, ela exagera em planos muito incisivos e
frontalmente subjetivos, mas acerta muito na composição do espaço para cada que
cada um ganhe seu momento. Com isso, ganha o conjunto e a imagem final bastante
significativa.
TEMPORADA (André Novais de Oliveira, ficção, MG, 113
min)
Juliana (Grace Passô) acaba de se mudar de
Itaúna para a periferia de Contagem. Após ser chamada em um concurso público,
ela passa a trabalhar na prevenção de endemias (como a Dengue) visitando as
casas da região para investigar possíveis focos de transmissão de doenças.
O diretor André
Novais de Oliveira já tem no currículo alguns conhecidos do público mais
ligado na produção nacional, como Quintal
e Ela Volta na Quinta. Aqui ele volta
a explorar o personagem comum pelo naturalismo. É notável sua capacidade de dar
importância e conferir aspectos dramáticos ao mundano. O ritmo cadenciado e a
não necessidade de se apoiar em trilhas assertivas eleva a simplicidade dos conflitos
universais à sociedade: a procura por um bom emprego, um relacionamento estável
e a realização pessoal.
O uso de alguns atores sem muita experiência se revela um
acerto, já que vários deles parecem personagens para quem não conhece muito o
jeitinho mineiro. A familiaridade na forma como interagem e a espontaneidade
capturada como se fosse um documentário são precisas e a sensação é prazerosa como
escutar um parente de Minas Gerais contar dezenas de histórias durante o
cafezinho. O humor cai como uma luva em um festival onde há tanta mensagem
política explícita e seriedade.
O uso de planos longos oferece a chance de brilhar a
protagonista, além de extrair uma surpreendente construção dramática em cenas que
parecem improvisadas. Cada uma delas aproveita o silêncio e os “tempos mortos”
para colocar Juliana na tentativa de
restabelecer sua vida após um acontecimento traumático. Ao invés de recorrer a
grandes explosões dramáticas ou reviravoltas, o longa atinge o difícil resultado
de passar humanidade ao público através de um cinema que tem a aparência de
passivo.
À medida que avança a história, entretanto, a obra começa a
estacionar demais, e o que era tão acertado passa a não surtir o mesmo efeito.
A insistência em alongar demais vários momentos que não avançam em nada nem a
trama e nem os personagens torna uma possível abordagem preciosa para um “média
metragem” em um longa que pesa demais suas quase 2 horas de duração. Entre os
belos aproximadamente 50 minutos e um final simbólico há um longo buraco que
poderia ser facilmente lapidado.
Apesar da ressalva, Temporada
ainda agrada e é, possivelmente, o longa mais humano do festival até agora.
Deixe sua opinião:)